Dermatites e alergia a cosméticos são extremamente comuns e um dos principais motivos de visita ao Dermatologista. Uma vez que a alergia ou dermatite se apresenta, médico e paciente precisam fazer um trabalho de detetives para descobrir a causa e resolver o problema.

Mas eu nunca fui alérgico a isto!

É comum que as pessoas percebam que a alergia surgiu “do nada”, que apareça mesmo usando os mesmos produtos há muito tempo. Quando isto acontece, geralmente acabam trocando os cosméticos que vinham usando por novos. O problema é que os novos produtos frequentemente contém a mesma substância que causou a dermatite, e o problema não melhora.

A alergia pode se desenvolver a qualquer momento, mesmo a produtos que se usou a vida inteira. Os cosméticos também costumam mudar de fórmula sem necessariamente avisar o consumidor, e os novos componentes podem provocar reações em quem anteriormente estava adaptado.

Alergia a cosméticos

Quando há uma alergia verdadeira, é necessário que o contato com a substância ocorra algumas vezes antes da reação se desenvolver. Então, não é comum que haja dermatites ou alergia a cosméticos na primeira vez que se usa. A não ser que este contenha uma substância na sua composição que esteja presente em outros produtos.

No caso das alergias verdadeiras, a reação é intensa e pode, em alguns casos, se estender até para além da área de contato. Além disso, a tendência é que os sintomas sejam piores a cada nova exposição.

Irritação secundária a cosméticos

Há substâncias que tem uma capacidade potencial natural de irritar a pele. Esta capacidade vai depender da concentração no produto, do veículo usado (gel, creme, líquido, etc), do tempo de contato (um sabonete tem um tempo de contato curto se comparado a um creme) e da integridade e sensibilidade da pele do local.

Quando há irritação, em geral a reação fica restrita ao local e a sensação é mais de ardência ou queimação do que coceira, mas isto pode variar.

E quando tudo dá “alergia”?

Há pessoas que tem uma dificuldade imensa para comprar cosméticos, que tem grande dificuldade mesmo para se adaptar a filtros solares e hidratantes. Que já tentaram várias substâncias e nada funciona.

Quando isto acontece, é raro que a pessoa seja realmente alérgica a tantas coisas. O mais provável é que a pele seja sensível ou pelo menos esteja sensibilizada. Isto pode ocorrer por doenças dermatológicas, como rosácea ou dermatite seborreica, ou ser característica individual.

Neste caso, o ideal é evitar esfoliar ou esfregar demais a pele, ter muito cuidado com o uso de ácidos, usar sabonetes suaves e preferir produtos sem fragrância, com poucos ingredientes e classificados como hipoalergênicos.

Às vezes é preciso dar uma “folga”para a pele e passar um tempo sem quase nada antes de retomar a rotina aos poucos.

O mapa da mina

Quando se desenvolvem dermatites ou alergia a cosméticos, o ideal é descobrir a substância causadora para evitar novas exposições. Aí começa o trabalho de detetive do dermatologista. Além de ouvir com atenção a história do uso de cosméticos, a LOCALIZAÇÃO das lesões é muito imp

Dermatites e alergias nas região dos olhos podem ser causadas por qualquer coisa usada no couro cabeludo, mãos ou face, principalmente  porque levamos muito as mãos ao rosto, trazendo tudo que entra em contato com elas. Esmaltes e unhas artificiais são culpados frequentes. Xampus e condicionadores também costumam estar envolvidos. É importante dizer que nestes casos as mãos e unhas, assim como o couro cabeludo e a face podem estar intactos. As pálpebras sofrem sozinhas por ter uma pele mais fina e delicada.

A região dos olhos também é afetada por pólen e  produtos voláteis (tintas, solventes), que ficam suspensos no ar.

Alergia à sombra, por incrível que pareça, é mais rara. Xampus, condicionadores, produtos de limpeza facial, esponjas aplicadoras de maquiagem, curvadores de cílios, esmaltes, unhas artificiais e alegenos transferidos das mãos estão envolvidos com mais frequência. 

Os lenços demaquialentes são muito  problemáticos porque , além de irritar a pele pela esfregação, costumam ter fragrância e deixar resíduos nas pálpebras pela falta de enxágue.

Para quem está desesperado e acha que não vai poder usar mais nada, é comum que quem é alérgico a máscara à prova d’água tolere as demais e vice versa. O mesmo ocorre com as sombras cremosas e em pó.

Face

Quando as laterais da face são mais afetadas, xampus, condicionadores ou outras doenças como psoríase ou dermatite seborreica são os principais suspeitos das dermatites e alergia a cosméticos

Já na parte central, quando envolve nariz, queixo, testa e bochechas, produtos aplicados diretamente na face,  como itens de skincare, maquiagem, e mesmo o metal que compões os anéis que usamos, estão mais frequentemente envolvidos.

E quando a alergia atinge só um lado da face? Talvez o culpado seja o parceiro, quando os cosméticos que o outro usa entram em contato a pele pelo toque da face e mãos.

Couro Cabeludo

O couro cabeludo é mais resistente e é comum que haja lesões no pescoço, face e mãos, causadas por xampus e condicionadores, sem lesões na cabeça.  Lesões no couro cabeludo são mais comuns com produtos com tempo de contato maior, como tinturas e alisantes.

Lábios

A investigação de alergias e dermatites por cosméticos nos lábios tem um truque que não vale para todos os casos, mas ajuda. Se todo o lábio está comprometido é mais provável que a culpa seja do batom. Se é só o lábio inferior ou um dos lados, o principal suspeito é o creme dental.

Aqui é importante dizer que muitas pessoas tem somente uma descamação que não melhora nunca, às vezes com uma discreta ardência, sem coceira nem inchaço, colocando a culpa no frio ou no clima seco.

Pescoço

O pescoço é o alvo preferido dos cremes e xampus. No inverno, os sabões e amaciantes que lavam as golas altas e cachecóis também podem estar envolvidos.

E se a investigação falhar?

O ideal é sempre procurar a ajuda de um Dermatologista, até porque muitas vezes as alergias e dermatites não desaparecem somente com a interrupção do produto e precisam de tratamento.

Mesmo com o trabalho de detetive, é comum que haja dúvida sobre o causador de alergias e dermatites a cosméticos. Neste caso, podemos lançar mão dos testes de contato. Os testes são um pouco trabalhosos e não estão disponíveis em todos os lugares, mas podem ser úteis quando bem indicados.

Infelizmente não fornecem respostas mágicas, como o nome ou a marca do cosmético envolvido, mas podem indicar a classe da substância. Neste caso, a solução é ficar atento ao rótulo dos cosméticos na próxima compra,

Um problema é que os kits de teste são bastante restritos e a quantidade de substâncias nos cosméticos é quase infinita, então há inúmeras classes que simplesmente não aparecem nos kits. Nestes casos, a solução é partir para o método de tentativa e erro até encontrar produtos seguros.

Felizmente vem surgindo cada vez mais opções hipoalergênicas, seguras, sem fragrância e com menos ingredientes.

Alérgicos e sensíveis agradecem.